Sociedade de Risco, Bioética e Princípio da Precaução

Marcelo Pereira dos Santos

Resumo


A dinâmica da medicina tem provocando grande arrepio na sociedade, em virtude dos avanços alcançados no âmbito da biomedicina e da genética que proporcionaram eventos dantes impensados como as técnicas de reprodução assistida, clonagem terapêutica, cirurgias para transmutação de sexo, bem como dos procedimentos clínicos voltados ao prolongamento da vida. Esses eventos não se dão sem provocar dilemas éticos que impõem uma reflexão em torno dos limites e graus de aceitabilidade quanto aos métodos e práticas utilizados por profissionais da saúde, biólogos, cientistas, farmacêuticos dentre outros envolvidos na manipulação de material genético e experimentações com seres humanos. Nessa perspectiva, o presente ensaio, a partir da apreciação analítica dos paradigmas da Bioética, promove a correlação entre dignidade humana, progresso científico e direitos fundamentais das futuras gerações sob os influxos decorrentes dos avanços da ciência e da tecnologia numa sociedade caracterizada pelo risco e a ambivalência. A análise das questões suscitadas é promovida com a utilização da metodologia dialético-descritiva, consubstanciada na pesquisa bibliográfica em torno das questões supramencionadas, envolvendo livros, artigos, dissertações e teses publicadas nos dez últimos anos. O referencial teórico tem assento na concepção de riscos e ambivalências, delineados por Ulrich Beck, Franz Josef Brüseke, Anthony Giddens, Zygmunt Bauman. O estudo aponta a compreensão da necessária incidência bioética do princípio da precaução como farol ético norteador do progresso técnico-científico e a necessária conciliação entre experimentações e legitimidade das escolhas para a manutenção e evolução da espécie humana.

Palavras-chave


Riscos, Ciência, Bioética, Dignidade, Precaução

Texto completo:

PDF

Referências


ANDERSON, Perry. As origens da pós-modernidade. Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

ALVARES, Mariell Antonini Dias. Princípio da Precaução como instrumento adequado para resolução dos problemas ambientais de segunda geração. Revista de Direito Ambiental, ano 18, vol. 71, jul/set, 2013, p. 35-52.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. Título original: Modernity and ambivalence.

_______. O Mal Estar da Pós-Modernidade. Tradução Mauro Gama, Claudia Martinelli Gama: revisão técnica: Luís Carlos Fridman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

BECK, Ulrich. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo: Editora 34, 2010.

BELLATO, Roseney; CARVALHO, Emília Campos de. O Jogo Existencial e a Ritualização da Morte. Revista Latino-americana de Enfermagem. Vol.13-1, janeiro-fevereiro, 2005, p. 99-104. Disponível em:< www.eerp.usp.br/rlae > Acesso 04 abr. 2015.

BRÜSEKE, Franz Josef. A Modernidade Técnica. Revista Brasileira de Ciências Sociais - vol. 17, nº 49, junho, 2002, pp. 135-173.

DE GIORGI, Raffaele. O Risco na Sociedade Contemporânea. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 9, nº 1, mar/jun., 2008, p. 37-49.

DOUGLAS, M. La aceptabilidad del riesgo según las ciencias sociales. Barcelona: Paidós Studio, 1996.

ENGELHARDT Jr. The foundations of Christian bioethics. Lisse, Netherlands: Swets & Zeitlinger, 2000.

GRECO, Dirceu B. Emancipação na luta pela equidade em pesquisas com seres humanos. Revista Bioética, vol. 21, nº 1, 2013, p. 20-31.

GUASTINI, Riccardo. Distinguiendo: estúdios de teoria y metateoría del derecho. Barcelona: Gedisa, 1999.

GUERRA, Sérgio. Transformações do Direito Administrativo e a (In) Segurança Jurídica. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado (RERE). Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº 17, 2009. Disponível em: < http://www.direitodoestado.com.br/rere.asp >. Acesso em: 04 abr. 2015.

HAMMERSCHMIDT, Denise. O Risco na Sociedade Contemporânea e o Princípio da Precaução no Direito Ambiental. Revista Seqüência. Universidade Federal do Paraná. Estudos Jurídicos e Políticos, n.º 45, 2002, p. 97-122. Disponível em: < www.periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/15317/13912 >. Acesso em: 04 abr. 2015.

HECK, J. N. Bioética: Contexto Histórico, Desafios e Responsabilidade. Revista ethic@, Florianópolis, v.4, n.2, Dez./2005, p.123-139.

INTERNATIONAL CONFERENCE ON THE PROTECTION OF THE NORTH SEA, 1987 London. Ministereal Declaration. Stockolm: Government Offices of Sweden, 2008.

JONAS, Hans. El principio de reponsabilidad. Ensayo de una ética para la civilización tecnológica. Barcelona: Herder, 1995.

KANE, John; PATAPAN, Haig. In Seach of Prudence: The Hidden Problem of Managerial Reform. Public Administration Review, v. 66, Issue 5, sep./oct., 2006, p. 711-724.

KOURILSKY, Philippe; VINEY, Geneviève. Le principe de précaution: rapport au Premier Ministre. Disponível em: < http://www.ladocumentationfrancaise.fr/var/storage/rapportspublics/004000402/0000.pdf > Acesso em: 04 abr 2015.

MARTINÉZ, Á. García de Jalón (et. al.). Transplante Renal. técnica y complicaciones. Actas Urológicas Españolas; Elsevier, volume 27, issue 9, 2003, p. 662-677.

MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Quatro paradigmas do direito administrativo pósmoderno:

legitimidade; finalidade; eficiência; resultado. Belo Horizonte: Fórum, 2008.

MORI, Maurizio. A Bioética: sua natureza e história. In:BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Capacitação para Comitês de Ética em Pesquisa – CEPs/Ministério da Saúde/Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,

Departamento de Ciência e Tecnologia. – Brasília : Ministério da Saúde, 2006.

PESSINI, L. O desenvolvimento da Bioética na América Latina. Algumas Considerações. In: PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. de P. (orgs.). Fundamentos da Bioética. 1ª ed., Cap. 1. São Paulo: Paulus, 1996.

RANDALL JR. The making of modern mind. New York: Columbia University Press, 1976.

ROTANIA, Alejandra Ana. A Celebração do Temor: Biotecnologias, Reprodução, Ética e Feminismo. Rio de Janeiro: E-Papers, 2001.

SECRETARÍA DEL TRATADO ANTÁRTICO. Protocolo al Tratado Antártico sobre Protección del Meio Ambiente. Disponível em:

< http://www.ats.aq/documents/recatt/Att006_s.pdf >. Acesso em: 04 abr 2015.

SILVEIRA, Fernando Lang. A Premissa Metafísica da Revolução Copernicana. Caderno Brasileiro de Ensino de Física - UFSC, v. 19, n. 1, abr., 2002, p. 29-52.

SUNSTEIN, Cass R. Beyond the Precautionary Principle. University of Pennsylvania Law Review, vol.151, nº. 3, 2003, p. 1003-1058.

TESSER, C. D. Medicalização social (I): o excessivo sucesso do epistemicídio moderno na saúde. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.10, n.19, jan/jun 2006, p.61-76.

TRONCOSO, María Isabel. El principio de precaución y la responsabilidade civil. Revista de Derecho Privado, Bogotá: Univerisidad Externado de Colombia, vol. 18, 2010, p. 205-220.

VIEIRA, Sonia; HOSSNE, William Saad. Experimentação com Seres Humanos. Ciência & Ensino – UNICAMP, vol. 2, jul. 1997, p. 7-9. Disponível em: http://prc.ifsp.edu.br/ojs/index.php/cienciaeensino/article/viewFile/11/1. Acesso em 04 abr 2015.

ZUBEN, Newton Aquiles von. As investigações científicas e a experimentação humana: aspectos bioéticos. Revista Bioethikos - Centro Universitário São Camilo -; vol 1, nº1, jan./jun., 2007, p. 12-23.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9695/2015.v1i1.29

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.