O FIM DO (JUS)POSITIVISMO?

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Iago Moura Melo
http://orcid.org/0000-0003-2144-0948
Rick Afonso-Rocha
http://orcid.org/0000-0001-5873-4136

Resumo

Este trabalho explora as possibilidades de ser do (jus)positivismo, a partir de um enfoque fenomenológico-hermenêutico. Visa a perquirir uma resposta ativa ao problema formulado por Streck, no locus da jurisdição constitucional, que questiona as condições de possibilidade do positivismo jurídico diante do fenômeno da virada linguística. Pergunta-se se se trata efetivamente do fim do (jus)positivismo ou se a doutrina fenomenológico-existencial do direito traduziria uma expressão mais autêntica daquele modo de pensar, a partir de uma reflexão sobre a polissemia da palavra fim. Objetiva, assim, constatar que, com a aludida viragem, o deslocamento, na linguagem, da relação epistemológica sujeito-objeto para a relação hermenêutica sujeito-sujeito, e sobretudo com o recurso aos estudos de Martin Heidegger, a justeoria passa a habitar um novo lugar, que se cumpre na pesquisa fenomenológica pelo justo concreto, enquanto proposta hermenêutica. O fenômeno jurídico, tido sob os horizontes de uma ontologia fundamental, encontra o seu fim, isto é, tem-lhe descortinado, ao revés de seu término, um novo lugar e uma nova finalidade. A pergunta pelo que o direito é, instada pela fenomenologia existencial, permite que se inaugure um novo modo de ser do juspositivismo, que indaga sobre o jurídico posto não como o ser em sua totalidade, mas como fenômeno. Em última instância, constata-se a inauguração um novo telos para a justeoria, que poderá traduzir a revisão de um projeto prévio compreensivo subjetivista. Em sentido amplo, emprega o método especulativo-hermenêutico. Administra o método antropofágico, como proposto por Oswald de Andrade. Utiliza a técnica bibliográfica, desde um enfoque exploratório.

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Como Citar
MOURA MELO, Iago; AFONSO-ROCHA, Rick. O FIM DO (JUS)POSITIVISMO?. Revista de Direito Brasileira, Florianopolis, Brasil, v. 27, n. 10, p. 412–440, 2021. DOI: 10.26668/IndexLawJournals/2358-1352/2020.v27i10.5283. Disponível em: https://indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/5283. Acesso em: 20 dez. 2024.
Seção
PARTE GERAL
Biografia do Autor

Iago Moura Melo, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

Doutorando em Letras pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Mestre em Letras (UESC). Bacharel em Direito (UESC) e Advogado (OAB/BA). É membro do Grupo de Estudos Discursivos (GED/UESC), do Grupo de Estudos Pecheutianos (GEP) e do Coletivo Contradit (Coletivo de Trabalho - Discurso e Transformação). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Rick Afonso-Rocha, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

Doutoranda e mestra pelo PPGL: Linguagens e Representações, da Universidade Estadual de Santa Cruz (PPGL/UESC). Bolsista da FAPESB. Integrante do grupo de pesquisa “O Espaço Biográfico no Horizonte da Literatura Homoerótica” (GPBIOH), do Núcleo de Estudos Queer e Decoloniais da UFRPE (NuQueer) e do Grupo de Pesquisa Estudos Literários Contemporâneos: Fontes da Literatura de Jornal da UEFS. Colaboradora do Grupo de Estudos Discursivos em Arte e Design (NEDAD/UFPR), do Grupo de Estudos Discursivos da UESC (GED) e do blog Resista! Observatório de Resistências Plurais. 

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