CORPOS INQUIETOS, SEXUALIDADES “DESVIANTES”: GÊNERO E DESEJO COMO NOVOS TEMAS PARA AS CORTES CONSTITUCIONAIS

Conteúdo do artigo principal

Pâmela Copetti Ghisleni
http://orcid.org/0000-0003-0166-9462
Doglas Cesar Lucas
http://orcid.org/0000-0003-3703-3052

Resumo

Ao contrário das sociedades tradicionais, que convencionalizaram e padronizaram as relações interpessoais, as sociedades contemporâneas fizeram da sexualidade, dos afetos e do desejo verdadeiros loci de reconhecimento para os sujeitos, imprescindíveis – mais do que nunca – ao processo de subjetivação do ser. Nesse contexto, não surpreende que o caminhar rumo à efetivação de direitos humanos atravesse, invariavelmente, os corpos e as sexualidades. A partir de revisão crítico-reflexiva dos temas pautados e da utilização da fenomenologia hermenêutica, analisam-se jurisprudências representativas das mais altas cortes jurisdicionais, nacionais ou internacionais, e em cujo cerne circulam as questões do gênero e da sexualidade. Tudo isso para estabelecer alguns parâmetros que evidenciem de que maneira o Direito vem enfrentando, incorporando e narrando esses novos temas, a fim de compreender se os posicionamentos adotados pelos tribunais eventualmente sinalizam – para o bem ou para o mal – para uma mudança de paradigma em termos de justiça de gênero e sexualidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
COPETTI GHISLENI, Pâmela; LUCAS, Doglas Cesar. CORPOS INQUIETOS, SEXUALIDADES “DESVIANTES”: GÊNERO E DESEJO COMO NOVOS TEMAS PARA AS CORTES CONSTITUCIONAIS. Revista de Direito Brasileira, Florianopolis, Brasil, v. 35, n. 13, p. 130–150, 2024. DOI: 10.26668/IndexLawJournals/2358-1352/2023.v35i13.7316. Disponível em: https://indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/7316. Acesso em: 19 nov. 2024.
Seção
PARTE GERAL
Biografia do Autor

Pâmela Copetti Ghisleni, Faculdade CNEC Santo Ângelo/RS

Possui graduação em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ (2015) e mestrado em Direito, com ênfase em Direitos Humanos, pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da UNIJUÍ (2018). Cursou o mestrado com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Estagiou por um ano na Procuradoria Geral do Estado (12ª Regional) e por dois anos no Gabinete da 1ª Vara Cível da Comarca de Ijuí/RS. Ainda na graduação, atuou como bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq. Atualmente, é professora do Curso de Graduação em Direito da Faculdade CNEC Santo Ângelo, advogada (OAB/RS 100.497) e membro da Comissão de Direitos Humanos da 23ª Subseção da OAB/RS.

Doglas Cesar Lucas, Unijuí - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e Faculdade CNEC Santo Ângelo/RS

Possui graduação em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ (1998), mestrado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001), Doutorado em Direito pela UNISINOS (2008) e Pós-Doutorado em Direito pela Università Degli Studi di Roma Tre (2012). É professor dos Cursos de Graduação, Mestrado e Doutorado em Direito na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijui e professor no Curso de direito da Faculdade Cnec Santo Ângelo. Professor colaborador no mestrado e doutorado em Direito da URI - Santo Ângelo. Editor-chefe da Revista Direitos Humanos e Democracia (B1). É coordenador da Coleção Direitos Humanos e Democracia, publicada pela editora Unijui. Avaliador do MEC/INEP. Pesquisador do Instituto Jurídico Portucalense, no grupo de pesquisa Dimensions of Human Rigths. Pesquisador colaborador do IBEROJUR, na área temática de Filosofia do Direito e Direitos Fundamentais. Líder do Grupo de Pesquisa no CNPQ Fundamentação crítica dos direitos humanos. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Filosofia do Direito, atuando principalmente nos seguintes temas: Direitos humanos, identidade, interculturalidade, desobediência civil, direito de resistência e democracia. 

Referências

A DEFESA das uniões homoafetivas perante o STF: uma visão humanista da vida (parte 1). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5_CHQPes_ls. Acesso em: 09 dez. 2017.

BATAILLE, Georges. O erotismo. Tradução de Fernando Scheibe. Belo Horizonte: Autêntica Ed., 2014.

BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. Tradução de Sérgio Milliet. 2. ed. 2. v. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

BECK, Ulrich; BECK-GERNSHEIM, Elisabeth. El normal caos del amor. Barcelona: El Roure Ed., 1998.

BORRILLO, Daniel. O sexo e o direito: a lógica binária dos gêneros e a matriz heterossexual da lei. Revista Meritum, Belo Horizonte, v. 5, n. 2, jul./dez. 2010. Disponível em: http://www.fumec.br/revistas/meritum/article/view/1092. Acesso em: 13 maio 2017. p. 289-321.

BORRILLO, Daniel. Uma perspectiva crítica das políticas sexuais e de gênero. Gênero, sexualidade e direitos humanos. Porto Alegre: maio de 2015. Disponível em: https://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01240641/document. Acesso em: 15 maio 2017.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução de Maria Helena Kühner. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.543/DF. Relator: Min. Edson Fachin, Brasília 11 maio 2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15344168708&ext=.pdf. Acesso em: 15 jan. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132/RJ. Relator: Min. Ayres Brito, Brasília, 05 maio 2011. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628633. Acesso em: 10 dez. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277/DF. Relator: Min. Ayres Britto, Brasília, 05 maio 2011a. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635. Acesso em: 10 dez. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5.543/DF. Relator: Min. Edson Fachin, Brasília, 08 jun. 2016. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=309695587&tipoApp=.pdf. Acesso em: 10 dez. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 646.721/RS. Relator: Min. Roberto Barroso, Brasília, 10 maio 2017. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4100069. Acesso em: 10 dez. 2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 878.694/MG. Relator: Min. Roberto Barroso, Brasília, 10 maio 2017a. Disponível em: http://stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4744004. Acesso em: 10 dez. 2017.

BUTLER. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. 10. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

CORTE CONSTITUCIONAL DE COLOMBIA (CCC). Comunicado nº 17, 28 abr. 2016. Celebración de matrimonio civil entre parejas del mismo sexo en Colombia. Sentencia de unificación. Disponível em: http://www.corteconstitucional.gov.co/comunicados/No.%2017%20comunicado%2028%20de%20abril%20de%202016.pdf. Acesso em: 09 dez. 2017.

CORTE CONSTITUCIONAL DE COLOMBIA (CCC). Decision T-629/10, 2010. Protection to the sex workers (prostitution). Disponível em: http://www.corteconstitucional.gov.co/RELATORIA/2010/T-629-10.htm. Acesso em: 09 dez. 2017.

CORTE CONSTITUCIONAL DE COLOMBIA (CCC). Decision T-372/13, 2013. Right to conjugal visits for LGBTI people. Disponível em: http://english.corteconstitucional.gov.co/sentences/T-372-2013.pdf. Acesso em: 09 dez. 2017.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CORTE IDH). Sentença. Ángel Alberto Duque vs. Colômbia. 26 fev. 2016. Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_310_esp.pdf. Acesso em: 02 out. 2017.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CORTE IDH). Sentença. Atala Riffo e Filhas vs. Chile. 24 fev. 2012. Disponível em: http://corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_239_esp.pdf. Acesso em: 14 out. 2017.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

DERRIDA, Jacques; ROUDINESCO, Elizabeth. De que amanhã: diálogo. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2004.

FEITOSA, Lourdes Conde. Gênero e sexualidade no mundo romano: a antiguidade em nossos dias. História: Questões & Debates, dez. 2008. p. 119-135. Disponível em: http://revistas.ufpr.br/historia/article/view/15297/10288. Acesso em: 23 jun. 2017.

FERRY, Luc. Famílias, amo vocês: política e vida privada na era da globalização. Tradução de Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 22. impr. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 2012.

FOUCAULT, Michel. Os anormais: curso no Collège de France. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2014.

FREUD, Sigmund. Obras completas, v. 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade, análise fragmentária de uma histeria (“O caso Dora”) e outros textos (1901-1905). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Ed. UNESP, 1993.

GREGORI, Maria Filomena. Prazeres perigosos: erotismo, gênero e limites da sexualidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

ILLOUZ, Eva. O amor nos tempos do capitalismo. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

LUCAS, Doglas Cesar; GHISLENI, Pâmela Copetti. O amor e o direito pertencem a “idiomas” distintos: uma crítica à juridicização do afeto. RBSD – Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 4, n. 3, p. 106-131, set./dez. 2017. Disponível em: http://revista.abrasd.com.br/index.php/rbsd/article/view/155. Acesso em: 29 out. 2017.

MARÍN, Daniel Rivera. Los tres maridos: la historia de una "trieja", la unión marital de tres hombres en Colombia. BBC Mundo. 15 jun. 2017. Disponível em: http://www.bbc.com/mundo/noticias-40286113. Acesso em: 30 out. 2017.

MELLO, Luiz. Familismo (anti)homossexual e regulação da cidadania no Brasil. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 497-508, jan. 2006. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2006000200010/7761. Acesso em: 28 jan. 2018.

MISKOLCI, Richard. Desejos digitais: uma análise da busca por parceiros on-line. Belo Horizonte: Autêntica Ed., 2017.

NIETZSCHE, Friedrich. A vontade de poder. Tradução de Marcos Fernandes e Francisco Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008.

NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Tradução de Marco Antonio Esteves da Rocha e Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

RIOS, Roger Raupp. Notas para o desenvolvimento de um direito democrático da sexualidade. In: RIOS, Roger Raupp. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 13-38.

ROESLER, Claudia Rosane; SANTOS, Paulo Alves. Argumentação jurídica utilizada pelos tribunais brasileiros ao tratar das uniões homoafetivas. Revista Direito GV, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 615-638, dez. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-24322014000200615&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 29 out. 2017

ROUDINESCO, Elizabeth. A família em desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

ROUDINESCO, Elizabeth. A parte obscura de nós mesmos: uma história dos perversos. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

SANTOS, André Leonardo Copetti; LUCAS, Doglas Cesar. A (in)diferença no direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015.

STEARNS, Peter N. História da sexualidade. Tradução de Renato Marques. São Paulo: Contexto, 2010.

STOLLER, Robert J. Perversão: a forma erótica do ódio. Tradução de Maria Lúcia L. da Silva. São Paulo: Hedra, 2015.

STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 11. ed. rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014.

SUPREMA CORTE DA DINAMARCA (SCD). Caso nº 159/2016, 23 mar. 2017. Same-sex marriage. Disponível em: http://www.supremecourt.dk/supremecourt/nyheder/Afgorelser/Pages/Same-sexmarriage.aspx. Acesso em: 10 dez. 2017.

SUPREMA CORTE DOS ESTADOS UNIDOS (SCEU). Case Obergefell vs. Hodges, 26 jun. 2015. Disponível em: https://www.supremecourt.gov/opinions/14pdf/14-556_3204.pdf. Acesso em: 09 dez. 2017.

WARAT, Luis Alberto. A ciência jurídica e seus dois maridos. 2. ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000.

TRIBUNAL EUROPEU DE DIREITOS HUMANOS (TEDH). Sentença, Petição nº 17484/15. Carvalho Pinto de Sousa Morais vs. Portugal. 25 jul. 2017. Disponível em: http://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-175659. Acesso em: 31 jul. 2017.