O PRESENTE COMO HISTÓRIA E O FASCISMO ETERNO

Raffaele De Giorgi

Resumo


O presente é o lugar no qual se representada – é o teatro, na verdade – em que se torna visível, opera-se o condensado semântico, o patrimônio de sentido que se sedimentou como traço do passado, como resíduo seletivo que orienta a ação social. Nesse sentido, o presente não é o início de sua própria temporalidade, mas é consequência, é ponto de chegada. O presente é memória, é diferença entre lembrar e esquecer. O presente é história.

E assim: se quisermos compreender o presente como história, é necessário, antes de tudo, esclarecer qual era a modernidade diante da qual corria o século passado em seus primeiros vinte anos. Então poderemos ver quais inércias semânticas continuam a operar em nosso presente e poderemos compreender sua relevância no contexto da autorrepresentação da sociedade e na reflexão de seus limites, ou seja, na imagem de seu presente futuro. Poderemos observar, assim, as características da modernidade de nossa modernidade e o fluxo de sedimentos de sentido que continuam a operar no presente como resíduos das ameaças, inextinguível inércia, como detrito semântico do passado.

Descobriremos, então, que o presente está inquinado aquilo que, com Umberto Eco, poderemos chamar, Ur-fascismo, fascismo eterno: este Ur-fascismo adquire no nosso presente conotações particulares que definem o modo pelos quais a política, a economia, mas também o direito - e as religiões que a eles se adaptam - exercem violência contra a complexidade da sociedade moderna. A experiência deste Ur-fascismo nos faz pensar no sonho que José Arcadio Buendia faz, el sueño de los cuartos infinitos: um estranho sonho em que ele despierta hacia atrás, despierta al revés.


Palavras-chave


Presente. História. Modernidade. Ur-fascismo: Fascismo eterno.

Texto completo:

PDF

Referências


ALEKSIEVICH, Svetlana. El fin del “homo sovieticus”. Trad. del ruso de J. Ferrer. Barcelona: Quaderns Crema, 2015.

BOCCIONI, Umberto. Contro la vigliaccheria artistica italiana. Lacerba, 1° settembre 1913.

CANGIANO, Minno. Aspetti del modernismo fascista (Italia, Francia, Germania: 1918- 1939). Enthymema, XXVIII, p. 125-144. 2021.

Croce, Benedetto, Per la rinascita dell’idealismo (1908), in: Cultura e vita morale, Laterza, Bari 1953, p. 36 (cfr. E. Gentile, 1996, p. 16)

DE GIORGI, Raffaele. PRIZRENI, Adriana (ed.). Lo sguardo dell’altro. Lecce: Pensa MultiMedia, 2018.

ECO, Umberto. Il fascismo eterno. Milano: La Nave di Teseo, 2017.

GADAMER, Hans-Georg. dá uma palestra intitulada: Volk und Geschichte im Denken Herders. Frankfurt a.M.: Vittorio Klostermann, 1967.

GENTILE, Emilio. Le origini dell’ideologia fascista (1918-1925), il Mulino, Bologna 1996.

GENTILE, Emilio. The Struggle for Modernity: Nationalism, Futurism, and Fascism. Westport: Praeger, 2003.

GRIFFIN, Roger. Modernism and Fascism: The Sense of a Beginning under Mussolini and Hitler. London: Palgrave, 2007.

GRIFFIN, Roger. Modernity, Modernism, and Fascism: A “mazeway” resynthesis. IN: [?]. MODERNISM/modernity, Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2008, p. 9-24. [Vol. XV, n. 1].

GRIFFIN, Roger. The Nature of Fascism. London: Routledge, 2013.

HERDER, Johann Gottfried. Auch eine Philosophie der Geschichte zur Bildung der Menschheit. Stuttgart: Reclam, 1990.

HORKHEIMER, Max. Subjektivität und Selbsterhaltung: Beiträge zur Diagnose der Moderne. Herausgegeben und eingeleitet von H. Ebeling. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1996, p. 41-75.

KLINKHAMMER, Lutz; BERNHARD, Patrik (ed.). L‘”uomo nuovo” del fascismo: tra progetto e azione [Schriftenreihe - Ricerche dell’istituto storico germanico di Roma], Band 11 (2017).

LE BON, Gustave. Psicologia delle folle. Milano: Edizioni TEA, Milano, 2004 [(1895)].

LEVITSKY, Steven; WAY, Lucan A. Competitive Authoritarianism: Hybrid Regimes after the Cold War. Cambridge: Cambridge University, 2010.

LUHMANN, Niklas; DE GIORGI, Raffaele. Teoria della società. Milano: Franco Angeli, 1991

LUHMANN, Niklas. Haltlose Komplexität. IN: _____. Soziologische Aufklärung, 5: Konstruktivistische Perspektiven. Opladen: Westdeutscher, 1990, p. 59-76.

LUHMANN, Niklas. Soziale Aufklärung. IN: _____. Soziologische Aufklärung, 1: Aufsätze zur Theorie sozialer Systeme. Opladen Westdeutscher, 1996 (1970), p. 66-91.

MORASSO, Mario. L’imperialismo nel secolo XX: La conquista del mondo. Milano: Fratelli Treves, 1905. p. 32 e 39.

PELLIZZI, Camillo. Idealismo e fascismo. Gerarchia, I (1922), 10, pag. 605-612 (Cfr. E. Gentile, 1996, pag. 156)

PELLIZZI, Camillo. Problemi e realtà del fascismo. Firenze: Vallecchi, 1924.

STERNHELL, Zeev. Les anti-lumières: Une tradition du XVIIIe siècle à la guerre froide. Paris: Gallimard, 2010.

WEINGART, Peter; KROLL, Jürgen; BAYERTZ, Kurt (Org.). Rasse, Blut und Gene: Geschichte der Eugenik und Rassenhygienie in Deutschland. Frankfurt a.M.:, Suhrkamp, 1992.

WOLIN, Richard. The Seduction of Unreason: The intellectual Romance with Fascism from Nietzsche to Postmodernism. Princeton: University of Princeton, 2004.

ZINOVIEV, Aleksander. Homo sovieticus. Atlantic Monthly Press, 1985.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2358-1352/2022.v32i12.9158

Apontamentos

  • Não há apontamentos.