RECONHECIMENTO DE DIREITOS DE PESSOAS TRANS: ALTERNATIVAS, POLÍTICAS E ATIVISMO TEÓRICO-JUDICIAL

Vinicius Ferreira Baptista

Resumo


a luta de pessoas trans ao reconhecimento de direitos vem ganhando substancialidade na segunda metade do século XX no Brasil. Da negligência de direitos ou o não reconhecimento explícito dos mesmos, uma série de litígios alcançaram a Suprema Corte no país. Neste sentido, o objeto deste trabalho é analisar as decisões proferidas destes litígios à luz da compreensão teórica de gênero à luz das interpretações que orientaram as mesmas. Avaliamos, por Análise de Conteúdo, decisões do Supremo Tribunal Federal no Brasil e pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Procuramos demonstrar a responsabilidade civil objetiva do Poder Público de efetivar direitos, quando sujeitos indicam não serem considerados de igual valor moral na sociedade. Esta reivindicação não pode ser confundida com a criação de “novos” direitos. Ao mesmo tempo, não se trata de um “ativismo judicial” que colocaria o Poder Judiciário em contexto criador de leis. Todavia, há de se considerar o papel limitante do Judiciário, não sendo considerado como capaz de reescrever direitos e promover mudanças sociais, mesmo com negligência do Executivo ou Legislativo. Por outro lado, nesta flagrante desconsideração de direitos, é por via judiciária que ocorre efetivação de direitos, ainda mais quando evidenciados o alto grau de vulnerabilidade dos grupos sociais afetados. É preciso, portanto, que a interpretação de conceitos seja à luz de como valores políticos afetam a estrutura normativa, assim, a compressão e concepção de Justiça, Democracia e Dignidade Humana não são conflitantes, nem autônomos, mas analisados e interpretados de perspectiva integrada.

Palavras-chave


Pessoas transgêneras; Pessoas transexuais; Direitos; Gênero; Direitos Humanos.

Texto completo:

PDF

Referências


ADLER, Libby. Gay Priori: A Queer Critical Legal Studies Approach to Law Reform. Durham: Duke University Press, 2018

ALBARRACÍN, Mauricio. Social Movements and the Constitutional Court: Legal Recognition of the Rights of Same-Sex Couples in Colombia. Sur: International Journal v. 8, n. 14, p. 7–31, 2011. Disponível em: . Acesso em 8 de novembro de 2020.

AMARAL, Marília dos Santos et al. “Do travestismo às travestilidades”: uma revisão do discurso acadêmico no Brasil entre 2001-2010. Psicologia & Sociedade, v. 26, n. 2, p. 301-311, 2014. Disponível em: . Acesso em 22 de agosto de 2020

ARAÚJO, LUIZ HENRIQUE DINIZ. O ativismo judicial e constrangimentos a posteriori. Revista de Investigações Constitucionais, v. 5, n. 1, p. 129-150, 2018. Disponível em: . Acesso em 22 de agosto de 2020.

ARENDT, Hannah. The Origins of Totalitarism. 3rd edition. New York: Hancourt, Brace, and Jovanovich, 1979.

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977.

BARROS, José D’Assunção. Desigualdade e Diferença: Construções históricas e imaginárias em torno da desigualdade humana. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

BENHABIB, Seyla. Dignity in Adversity: Human rights in Troubled Times. Malden, MA and London: Polity Press, 2011.

BENTO, Berenice. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2010.

BERG-WEGER, Marla (Editor). Social Work and Social Welfare: An Invitation. New York: Routledge, 2016.

BRASIL. O Ministério Público e a Igualdade de Direitos para LGBTI. Conceitos e legislação. Brasília: MPF, 2017

BROWN, Wendy. Regulation Aversion: Tolerance in the age of identity and Empire. Princeton University Press, 2009.

BOURDIEU, Pierre. Masculine Domination. Translated by Richard Nice. Stanford, California: Stanford University Press, 2001.

BUNCHAFT, Maria Eugenia. A jurisprudência brasileira da transexualidade: uma reflexão à luz de Dworkin. Sequência, n. 67, p. 277-308, 2013. Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-70552013000200011>. Acesso em 27 de outubro de 2020.

BUTLER, Judith. Gender Trouble: Feminism and the subversion of Identity. New York: Routledge, 1999.

CENZIPER, Debbie; OBERGEFELL, Jim. Love Wins: The Lovers and Lawyers Who Fought the Landmark Case for Marriage Equality. New York: HarperCollins, 2016.

CEPEDA ESPINOSA, Manuel José. Judicial Activism in a Violent Context: The Origin, Role, and Impact of the Colombian Constitutional Court. Washington University Global Studies Law Review v. 3, n. 4, p. 529–700, 2004. Disponível em: . Acesso em 10 de novembro de 2020.

CHANTER, Tina. Gender: Key Concepts in Philosophy. Continuum: New York, 2007.

COHN, Margit; KREMNITZER, Mordechai. Judicial Activism: A Multidimensional Model. Canadian Journal of Law & Jurisprudence, v. 18, n. 2, p. 333-356, 2005. Disponível em: < https://www.cambridge.org/core/journals/canadian-journal-of-law-and-jurisprudence/article/judicial-activism-a-multidimensional-model/64E4FB896D67FFCB9A9F0ED749A972B9>. Acesso em 8 de novembro de 2020.

CORTES, Ana de Mello. Discriminação judicial por identidade de gênero: um diagnóstico. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 101-128, 2019. Disponível em: . Acesso em 27 de outubro de 2020.

DAVIS, Angela Yvonne. Women, Race & Class. Nova York: Randon House, 1983.

DINIZ, Maria Helena. Estado Atual do Biodireito. São Paulo: Saraiva, 2008.

DWORKIN, Ronald. Justice for Hedgehogs. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2011

DWORKIN, Ronald. Taking Rights Seriously. 3rd edition. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2002.

ELY, John Hart. Democracy and Distrust: a Theory of Judicial Review. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1980.

ENGEL, Cintia Liara. A violência contra a mulher. Brasília: IPEA, 2020. Disponível em: < https://www.ipea.gov.br/retrato/pdf/190215_tema_d_a_violenca_contra_mulher.pdf>. Acesso em 15 de outubro de 2020.

EPP, Charles. The Rights Revolution: Lawyers, Activists, and Supreme Courts in Comparative Perspective. Chicago: University of Chicago Press, 1998.

EPSTEIN, Lee. Some Thoughts on the Study of Judicial Behavior. William and Mary Law Review v. 57, n. 6, p. 2017–2073, 2017. Disponível em: . Acesso em 22 de agosto de 2020.

KMIEC, Keenan. Origin and current meanings of ‘judicial activism’. California Law Review, v.92, n. 5, p.1441-1477, 2004. Disponível em: . Acesso em 8 de novembro de 2020.

KOERNER, Andrei. Ativismo Judicial?: Jurisprudência constitucional e política no STF pós-88. Novos estududos - CEBRAP, n. 96, p. 69-85, 2013. Disponível em: . Acesso em 8 de novembro de 2020.

LINS JÚNIOR, George Sarmento; MESQUITA, Lucas Isaac Soares. Neoconstitucionalismo ou Supremocracia? Uma análise do ativismo judicial no reconhecimento do nome social de pessoas trans na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.275. Revista Direitos Fundamentais & Democracia, v. 24, n. 1, p. 161-190, 2019. Disponível em: . Acesso em 8 de novembro de 2020.

MELLO, Adriana. O Supremo Tribunal Federal e o Direito das Travestis à Unidade Prisional Feminina - Comentários à Decisão Proferida no Habeas Corpus nº 152.491. Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 16 - n. 1, p. 193-211, 1º sem. 2018. Disponível em: . Acesso em 22 de agosto de 2020

MIARELLI, Mayra; LIMA, Rogério. Ativismo judicial e a efetivação de direitos no Supremo Tribunal Federal. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2012.

OKIN, Susan Moller. Gênero, o público e o privado, o público e o privado. Revista Estudos Feministas, v. 16, 2, p. 305-332, 2008. Disponível em: . Acesso em 10 de novembro de 2020.

OLIVEIRA, José Wellington de et al. “Sabe a Minha Identidade? Nada a Ver com Genital”: Vivências Travestis no Cárcere. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 38, n. spe2, p. 159-174, 2018. Disponível em: . Acesso em 22 de agosto de 2020.

PHILLIPS, John. Transgender on Screen. New York: Palgrave Macmillan, 2006.

PERES, Ana Paula Ariston Barion. Transexualismo: o direito a uma nova identidade. Rio de Janeiro: Renovar, 2001

SCOTT, Joan. Gender and the Politics of History. New York: Columbia University Press, 1988.

SCUS [SUPREME COURT OF THE UNITED STATES]. Bostock v. Clayton County, Georgia. No. 17–1618; Altitude Express, Inc., et al., Petitioners v. Melissa Zarda and William Allen Moore, Jr., Co-Independent Executors of the Estate of Donald Zarda. No. 17–1623; R.G. & G.R. Harris Funeral Homes, Inc., Petitioner v. Equal Employment Opportunity Commission, et al. No. 18-107. Argued October 8, 2019—Decided June 15, 2020. Disponível em: . Acesso em 15 de outubro de 2020.

STEFANES PACHECO, Rosely Aparecida; STEFANES PACHECO, Isabela. Direito, violências e sexualidades: a transexualidade em um contexto de direitos. Estudios Socio-Jurídicos, v. 18, n. 2, p. 203-228, 2016. Disponível em: . Acesso em 27 de outubro de 2020.

TATE, Neal; VALLINDER, Torbnörn (Editors). The global expansion of Judicial Power. New York: New York University Press, 1995.

TAYLOR, Charles. Sources of the Self: The Making of the Modern Identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

TUSHNET, Mark. Taking the Constitution away from the Courts. Princeton: Princeton University Press, 1999.

USC [UNITED STATES CONGRESS]. Public Law No. 92‑318, 78 Stat. 241, enacted July 2, 1964. Civil Rights Act of 1964. Disponível em: . Acesso em 15 de outubro de 2020

UPRIMNY, Rodrigo. Judicialization of Politics in Colombia: Cases, Merits and Risks. Sur: International Journal n. 6, p. 48–65, 2007. Disponível em: . Acesso em 8 de novembro de 2020.

VECCHIATTI, Paulo Roberto. Constitucionalidade e Dever Constitucional da Classificação da Homofobia e da Transfobia como Crimes de Racismo. In: DIAS, Maria Berenice. Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo. 3ª edição. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017.

WEINBERG, George. Society and the healthy homosexual. New York: Saint Martin’s, 1972.

WILSON, Bruce; GIANELLA-MALCA, Camila. Overcoming the Limits of Legal Opportunity Structures: LGBT Rights’ Divergent Paths in Costa Rica and Colombia. Latin American Politics and Society, v. 61, n. 2, 138-163, 2019. Disponível em: . Acesso em 15 de outubro de 2020.

WILSON, Bruce. Institutional Reform and Rights Revolutions in Unlikely Places: Costa Rica and Colombia. Journal of Politics in Latin America, v. 1, n. 2, p. 59–85, 2009. Disponível em: . Acesso em 8 de novembro de 2020.

YOUNG, Iris Marion. Justice and the Politics of Difference. New Jersey: Princeton University Press, 2011.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2358-1352/2021.v28i11.6906

Apontamentos

  • Não há apontamentos.