Paternalismo Jurídico-Penal, Autonomia e Vulnerabilidade: Critérios de Legitimação de Intervenções Paternalistas sobre a Autonomia Individual em Matéria Penal

Heráclito Mota Barreto Neto

Resumo


O trabalho que se apresenta tem como objetivo questionar a legitimidade das intervenções paternalistas estatais sobre a autonomia individual por meio de mecanismos penalísticos institucionais. Neste sentido, o trabalho buscará compreender em que casos está o Estado autorizado a exercer ingerência na vida particular dos indivíduos sob a justificativa de promover-lhes um bem ou evitar-lhes um mal e, da mesma forma, em quais hipóteses tal ingerência é abusiva da liberdade individual de autodeterminação. Para tanto, serão estudados os conceitos correntes de paternalismo, a classificação doutrinária das intervenções paternalistas que têm a utilidade de demonstrar espécies admissíveis e inadmissíveis de paternalismo e as doutrinas antipaternalistas de Joel Feinberg e Gerald Dworkin. Em seguida, o tema será analisado em cotejo com a consideração dos bens jurídico-penais envolvidos nos conflitos entre autonomia, vulnerabilidades humanas e paternalismo, especialmente quanto à (in)disponibilidade desses bens. Ao final, pretende-se traçar critérios para a legitimação dos atos paternalistas esculpidos em leis penais que se sobrepõem ao exercício da autonomia individual, tendo-se em mira a harmonização entre os valores constitucionais de respeito à autonomia, proteção de sujeitos vulneráveis e a função do Direito Penal de exclusiva proteção de bens jurídicos.

Palavras-chave


Paternalismo jurídico-penal, Autonomia, Vulnerabilidade, Bens jurídico- penais

Texto completo:

PDF

Referências


ALEMANY, Macario. El paternalismo jurídico. Madri: Iustel, 2006.

ARCHARD, David. Paternalism defined. Analysis. Oxford, vol. 50, n. 01, jan. 1990.

ARNESON, Richard J. Paternalism. In: CRAIG, Eduard. Routledge Encyclopedia of Philosophy, Londres, vol. 07, 1998.

ATIENZA, Manuel. Discutamos sobre paternalismo. Doxa: cuadernos de filosofia del derecho, vol. 05. Alicante: Universidad de Alicante, 1998.

BARRETO NETO, Heráclito Mota. O princípio constitucional da autonomia e sua implicação no Direito Penal. In: Nestor Eduardo Araruna Santiago; Paulo César Corrêa Borges; Cláudio José Langroiva Pereira. (Org.). Direito Penal e Criminologia: XXII Congresso Nacional do Conpedi. São Paulo: Fundação José Arthur Boiteux, 2013, v. único, p. 33-62.

BARROSO, Luis Roberto; MARTEL, Letícia de Campos Velho. A morte como ela é: dignidade e autonomia individual no final da vida. In: GOZZO, Débora; LIGIERA, Wilson Ricardo (Org.) Bioética e Direitos Fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2012.

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Arno Bessel e Rui Gilberto Staats. 2. ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.

BRINK, David O. Mill's Deliberative Utilitarianism. Philosophy and Public Affairs, vol. 21, n. 01, pp. 67-103, 1992.

DOLAN, Paul; PEASGOOD, Tessa. Measuring Well-being for Public Policy. Preferences or Experiences? Journal of Legal Studies, Chicago, vol. 37, jun. 2008.

DWORKIN, Gerald. Autonomy and behavior control. The Hastings Center Report. Garrison, vol. 06, n. 01, fev. 1971.

____________. Moral paternalism. Law and Philosophy, Holanda, v. 24, n. 03, 2005.

____________. Paternalism. The Stanford Encyclopedia of Philosophy. ZALTA, Edward N (ed.) Disponível em < http://plato.stanford.edu/archives/sum2014/entries/paternalism/ >. Acesso em: 10 dez. 2014.

FEINBERG, Joel. Harm to others. Nova Iorque: Oxford, 1984.

____________. Harm to self. Nova Iorque: Oxford, 1986.

____________. Harmless wrongdoing. Nova Iorque: Oxford, 1988.

____________. Offense to others. Nova Iorque: Oxford, 1985.

FOTION, Nicholas. Paternalism. Ethics, Chicago, vol. 89, n. 2, 1979.

KUFLIK, Arthur. The utilitarian logic of inalienable rights. Ethics, Chicago, vol. 97, out. 1986.

MANRIQUE, Ricardo García. La dignidad y sus menciones en la declaración. In: CASADO, M. (org.). Sobre la dignidad y los princípios: Análisis de la Declaración Universal Sobre Bioética y Derechos Humanos de la Unesco. Navarra: Editorial Aranzadi, 2009.

MARTINELLI, João Paulo Orsini. Paternalismo jurídico-penal. Tese (Doutorado em Direito). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

MINAHIM, Maria Auxiliadora. O consentimento do ofendido em face dos bens jurídicos indisponíveis. Revista de Ciências Jurídicas, Belo Horizonte, vol. 06, n. 01, jan./jun. 2008.

MIR PUIG, Santiago. El objeto del delito. Nueva Enc. Jurídica. Barcelona: F. SEIX, 1982, t. XVII.

POST, Robert. Dignity, autonomy and democracy. Disponível em: < http://escholarship.org/uc/item/8h98x8h9#page-1 > Acesso em: 01 mar. 2015.

PRADO, Luiz Regis. Bem jurídico-penal e Constituição. 4. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

____________. Curso de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. v. 1. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

RIGOPOULOU, Maria. Traços paternalistas no Direito Penal da atualidade. Revista Brasileira de Filosofia. São Paulo, vol. LVI, fasc. 227, jul./set. 2007.

ROXIN, Claus. Que comportamentos pode o Estado proibir sob a ameaça de pena? Sobre a legitimação das proibições penais. In: Estudos de Direito Penal. Tradução de Luis Greco. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

SANKOWSKI, Edward. “Paternalism” and social policy. American Philosophical Quarterly. Chicago, vol. 22, n. 01, jan. 1985.

SCHRAMM, Fermín Roland. A Autonomia Difícil. Bioética. Brasilia, v. 6, n. 1, 1998.

SHUNEMANN, Bernd. O direito penal é a ultima ratio da proteção de bens jurídicos! Sobre os limites invioláveis do direito penal em um estado de direito liberal. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo, n. 53, mar./abr. 2005.

SUBER, Peter. Paternalism. In: BERRY GRAY, Christopher (Org.). Philosophy of Law: an encyclopedia, vol. II. Nova Iorque: Garland, 1999.

TAVARES, Juarez. Teoria do injusto penal. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002.

WEBER, Thadeu. Autonomia, dignidade da pessoa humana e respeito em Kant. In: Sujeito e liberdade: investigações a partir do idealismo alemão. UTZ, Konrad; BAVARESCO, Agemir; KOZEN, Paulo Roberto (Org.). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2526-0065/2015.v1i1.36

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.