ANÁLISE CRÍTICA DA LEI N° 12.318/2010: A NECESSIDADE DE TIPIFICAÇÃO DA SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

MARIA SCARLET LOPES VASCONCELOS

Resumo


A Síndrome da Alienação Parental surgiu nos Estados Unidos e seu precursor, Richard A. Gardner, entendia ser um distúrbio no qual uma criança passa a ter um sentimento de repúdio a um dos pais sem qualquer justificativa, e ao mesmo tempo, uma doutrinação ao outro genitor. No Brasil, houve a receptividade da ideia de Gardner, sendo regulamentada a Lei n° 12.318/2010 com o fundamento de proteger crianças e adolescentes, porém muito tem se falado sobre a revogação da referida lei. Nesse contexto, questiona-se o porquê dos Estados Unidos não ter uma lei para alienação parental, visto que este é fruto daquele país, enquanto que o Brasil o ampara com toda veemência, sendo o único país que a protege legalmente, assim, é necessário refletir sobre essa normatização brasileira, e se a mesma, de fato, protege os melhores interesses da criança e adolescente, sendo este o objetivo geral do artigo. A metodologia utilizada no artigo foi bibliográfica, documental e jurisprudencial de cunho qualitativo e quantitativo. Será verificado que a alienação parental é uma violência intrafamiliar, e assim deverá ser tipificada, porém a forma que a lei brasileira foi criada e consequentemente, a forma da sua aplicação afasta o objetivo principal da lei, que seria proteger crianças e adolescente, vítimas dessa violação.

Palavras-chave


Convivência Familiar; Direito de Família; Lei 12.318/2010; Síndrome da Alienação Parental; Tipificação.

Texto completo:

PDF

Referências


AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Statement on Parental Alienation Syndrome. Washington DC: 2008. Disponível em:< Statement on Parental Alienation Syndrome (apa.org) >. Acesso em: 07 mai. 2023.

ARGENTINA. Colegio de Psicólogos de Bahía Blanca. Pronunciamiento SAP. Bahía Blanca: 2014. Disponível em: < Pronunciamiento SAP | Colegio de Psicólogos de la Provincia de Buenos Aires - Distrito I (colpsibhi.org.ar)>. Acesso em: 12 mai 2023.

ARRUDA, Paula Roberta Corrêa dos Santos. Responsabilidade civil no direito de família: da possibilidade de indenização por descumprimento do dever de convivência. 2017. Disponível em: http://www.ibdfam.org.br/_img/artigos/22_11_2011%20Afetividade.pdf. Acesso em: 14 dez 2022.

BEN-AMI, N.; BAKER, J. L. A. The Long-Term Correlates of Chil dhood Exposure to Parental Alienation on Adult Self-Sufficiency and Well-Being. The American Journal of Family Therapy, v. 39, pp. 169-183, 2012.

BERNET; BAKER, A. J. Parental alienation, DSM-5, and ICD-11: response to critics. Journal of the American Academy of Psychiatry and the Law Online, v. 41, n. 1, pp. 98-104, 2013.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 mai 2023.

BRASIL. Lei Federal n° 8.069, de 13 de julho de 1990: Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 14 mai 2023.

BRASIL. Lei n°11.698, de 13 de junho de 2008: Lei sobre a Guarda Compartilhada. Brasília. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11698.htm>. Acesso em: 14 mai 2023.

BRASIL. Lei n° 12.318, de 26 de agosto de 2010: Lei da Alienação Parental. Brasília. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 06 mai 2023.

BRASIL. Projeto de Lei nº 2.812, de 18 de novembro de 2022: Revogação da Lei da alienação parental, Câmara dos Deputados. Disponível em:< https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2338753>. Acesso em: 09 jun. 2023.

Brito, L. M., & Gonsalves, E. N. Razões e contra-razões para aplicação da guarda compartilhada. Revista dos Tribunais, 886, p. 69-86, 2009.

BRUCH, C. S. Parental Alienation Syndrome and Parental Alienation: getting it wrong in child custody cases. Family Law Quarterly, v. 35, n. 3, 2001.

CANADÁ. Departamento de Justiça. Is Parental Alienation Useful as a Concept? In: 2003-FCY-5E, Managing Contact Difficulties: a child-centered approach. Disponível em:< 2.0 CRITICAL QUESTIONS ABOUT CONTACT DIFFICULTIES - Managing Contact Difficulties: A Child-Centred Approach (2003-FCY-5E) (justice.gc.ca)> . Acesso em: 05 jun. 2023.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: RT, 2015.

ESPANHA. Guía de criterios de actuación judicial frente a la violencia de género. España: Consejo General del Poder Judicial, 2013.

FRANÇA. Syndrome d’aliénation parentale. França, 2018. Disponível em:< Syndrome d'aliénation parentale (senat.fr)> . Acesso em: 20 mai. 2023.

GARDNER, R. Basic facts about the parental alienation syndrome, p. 1-13. 2001. Acesso em 05 mai 2023, de http://www.rgardner.com/refs/pas_intro.html.

GARDNER, R. Denial of the Parental Alienation Syndrome Also Harms Women. American Journal of Family Therapy, v. 30, n. 3, pp.191-202, 2002d.

GARDNER, R. Misinformation versus facts about the contributions of Richard A. Gardner, M.D. The American Journal of Family Therapy, 2002a. Acesso em 10 mai 2023, de http://www.rgardner.com/refs/misperceptions_versus_facts.html

GARDNER, R. Misinformation versus Facts About the Contributions of Richard A. Gardner, M.D. The American Journal of Family Therapy, v. 30, pp. 395-416, 2002c.

GARDNER, R. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? Tradução de Rita Rafaeli. 2002. Disponível em: http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente. Acesso em: 22 Jan. 2021.

GARDNER, R. Parental Alienation Syndrome (PAS): Sixteen Years Later. Academy Forum, v. 45, n. 1, pp. 10-12, 2001b.

GARDNER, R. Parental alienation syndrome vs. parental alienation: Wich diagnosis should evaluators use in child custody disputes? The American Journal of Family Therapy, 30(2), 93-115, 2002b. Recuperado em 03 abril 2023, de http://www.rgardner.com/refs/ar1.htm.

GARDNER, R. Recent trends in divorce and custody litigation. The Academy Forum, v. 29, n. 2, pp. 3-7, 1985. Disponível em:< www.fact.on.ca/info/pas/gardnr.85.htm> . Acesso em: 07 dez. 2018.

GARDNER, R. Should Courts Order PAS Children to Visit/Reside with the Alienated Parent? A Follow-up Study. The American Journal of Forensic Psychology, v. 19, n. 3, pp. 61-106, 2001a.

GARDNER, R. The Parental Alienation Syndrome. 2. ed. Cresskill, NJ: Creative Therapeutics Inc., 1988.

GEERTZ, C. J. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 1997.

KELLY, J. B.; JOHNSTON, J. R. The alienated child: a reformulation of parental alienation syndrome. Family Court Review, v. 39, n. 3, pp. 249-266, 2001.

LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 10. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5. 2020.

MEIER, J. S. A historical perspective on parental alienation syndrome and parental alienation. Journal of Child Custody, v. 6, n. 3-4, pp. 232-257, 2009a.

MENDES, J. A. A. et al. Publicações psicojurídicas sobre alienação parental: uma revisão integrativa de literatura em português. Psicologia em estudo, v. 21, n. 1, 2016. Disponível em: < PUBLICAÇÕES PSICOJURÍDICAS SOBRE ALIENAÇÃO PARENTAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA EM PORTUGUÊS | Psicologia em Estudo (uem.br)>. Acesso em: 13 mai. 2023.

MOSES, M.; TOWSEND, B. A. Parental Alienation in Child Custo dy Disputes. Tenneseebar Jounal, 2011.

OLIVEIRA, C. F. B. (Im)Possibilidades de atuação da psicologia jurídica em meio à judicialização das famílias. In: THERENSE, M. et al. Psicologia Jurídica e Direito de Família: para além da perícia psicológica. Manaus: UEA Edições, 2017.

PINHO, M. A. G. Breves Linhas Sobre a Alienação Parental. Revista do Curso de Direito da UNIFACS, v. 124, 2010.

SILVA, Ana Letícia Erthal Soares Silva. DE PAULA, Suellen Augusto. Alienação Parental Inversa e o cabimento do dano moral. Anais do XV Encontro de Iniciação Científica da UNI7. v. 9, n. 1, 2019.

SILVA, D. M. P. Alienação Parental: o lado sombrio da separação. In: Iolete Ribeiro da Silva. (Org.). Debatendo sobre Alienação Parental: diferentes perspectivas. 01ed. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2019, v. 01, p. 50-69.

SOUSA, A. M. Síndrome da alienação parental: análise de um tema em evidência. Centro de Educação e Humanidades. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2009.

SOUSA, A. M. Síndrome da alienação parental: um novo tema nos juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010.

SOUSA, A. M. BRITO, L. M. T. Síndrome de alienação parental: da teoria norte-americana à nova lei brasileira. Psicologia: ciência e profissão, v. 31, n. 2, pp. 268-283, 2011.

TEOH, J.; CHNG, G. S.; CHU, M. C. Parental Alienation Syndro me: Is It Valid? SAcLJ, v. 30, pp. 727-755, 2018.

WALLERSTEIN, J.; KELLY, J. Sobrevivendo à separação: como pais e filhos lidam com o divórcio. M. A V. Veronese, Trad. Porto Alegre: Artmed. (Trabalho original publicado em 1996), 1998.

WILLIS, B.; O’DONOHUE, W. Parental Alienation Syndrome: a critique. Revista de Estudios e Investigación en Psicología y Educación, v. 5, n. 2, pp. 74-81, 2018.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2526-0227/2023.v9i2.10183

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.