A PARADOXAL TRANSIÇÃO DO MEDIEVO AO MODERNO: UMA ANÁLISE ESTRUTURANTE DA RAZÃO DE ESTADO

IGOR MOURA RODRIGUES TEIXEIRA, Gustavo César Machado Cabral

Resumo


O objeto do presente trabalho é a análise do processo de formação da concepção moderna de Estado, a respeito dos elementos estruturantes concebidos na Idade Média e que disciplinaram a formação das instituições políticas modernas. Apreciam-se os elementos endógenos e exógenos, isto é, os movimentos de institucionalização das formas de organização do poder político, no período entre os séculos XV e XVIII. O objetivo do presente trabalho é estabelecer uma compreensão dos fatores políticos e jurídicos que constituíram o imaginário social da época e a resposta institucional das elites na reconfiguração das instituições para o exercício do poder. Desenvolve-se uma reflexão a partir da historiografia crítica do direito, no desenvolvimento de uma ponderação sobre as mudanças socioculturais observadas nas sociedades europeias, estruturantes das instituições correspondentes. A pesquisa diagnostica a relação entre o processo paradoxal de secularização, o processo de concentração e centralização do poder político, como determinante para absorção do conceito de soberania, e a separação entre Estado e sociedade como gênese das estruturas jurídicas e institucionais características da sociedade oitocentista. Conclui-se que na medida em que a ideologia liberal se constituía como fundamental na formação do imaginário social, ela também assume caráter fundante na reconfiguração dos espaços de poder. Em face desse processo, ocorre a superação das estruturas de poder tradicionalmente estabelecidas pelo medievo, disciplinando uma nova compreensão sobre o conceito e papel do Estado, que tem na estruturação da ordem constitucional seu novo critério legitimador.

Palavras-chave


Estado moderno; Transição paradoxal; Ordem política medieval; Secularização; Separação entre Estado e sociedade

Texto completo:

PDF

Referências


AGUIRRE, Germán Rodrigo. La politicidad de lo doméstico y los confines históricos de la estatalidad. Otto Brunner y su aporte histórico-conceptual. In: Anacronismo e Irrupción. Vol. 10, N. 19. (Noviembre 2020 – Abril 2021), p. 12-41. Disponível em: . Acesso em: 10 set 2023.

ALBUQUERQUE, Adriana Reis de; CABRAL, Gustavo César Machado. A legitimação da autoridade secular e a teorização do “Direito de Resistência” na filosofia da Reforma Protestante. In: Rev. Direito Práx., Rio de Janeiro, Vol. 11, N. 01, 2020, p. 17-45.

BERGERON, Louis; FURET, François; KOSELLECK, Reinhart. La época de las revoluciones europeas, 1780-1848. (Historia Universal; Siglo XXI) Vol. 26. 11. ed.. Madrid: Siglo Veintiuno, 1976.

BOCKENFORDE, Ernst-Wolfgang. Die verfassungstheoretische Unterscheidung von Staat und Gesellschaft als Bedingung der individuellen Freiheit. Dusseldorf: Westdeutscher Verlag; Opladen, 1972.

________. Constitutional and Political Theory: Selected Writings (volume 1). Edição: Mirjam Künkler; Tine Stein. Oxford: University Press, 2017.

________. Einleitung. p. XI-XVI. In: BOCKENFORDE, Ernst-Wolfgang. In: Staat und Gesellschaft. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschat, 1976.

BRUNNER, Otto. Land and Lordship. Structures of Governance in Medieval Austria. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 1992.

CABRAL, Gustavo César Machado. Ius Commune: uma introdução à história do direito comum do medievo à idade moderna. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.

CLAVERO, Bartolomé - Tantas personas como estados: Por una antropología política de la historia europea. Madrid: Fundação Cultural Enrique Luño Peña, 1986.

VAN CLEVELAND, Martin. Ascensão e declínio do Estado. Tradução: Jussara Simões. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

GARRIGA, Carlos. Órden jurídico y poder político en el Antígui Régimen. In: GARRIGA, Carlos; LORENTE, Marta. Cádiz, 1812. La Constitución jurisdicional. Mafrid: Centro de estudios políticos y constitucionales, 2007, p. 43-72.

________. ¿Qué era la Constitución de Cádiz? In: BREÑA, Roberto. Cádiz a debate: actualidad, contexto y legado. México D.F.: El Colegio de México Centro de Estudios Internacionales, 2014, p. 153-174.

GENÊT, Jean-Philippe. La genèse de l'État moderne. In: Actes de la recherche en sciences sociales. Vol. 118, juin 1997. Genèse de l’État moderne. pp. 3-18.

HESPANHA, António Manuel. As vésperas do Leviathan: Instituições e poder politico Portugal Séc. XVI. Rio de Mouro: Pedro Ferreira Artes Gráficas, 1986.

________. História das Instituições: épocas medieval e moderna. Coimbra: Almedina, 1982.

________. Poder e Instituições na Europa do Antigo Regime. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1984.

KOSELLECK, Reinhart. Critica illuminista e crisi della società borghese. Tradução: G. Panzieri. Bolonha: Il Mulino, 1984.

________. Crítica e crise: uma contribuição à patogênese do mundo burguês. Tradução: Kuciana Villas-Boas Castelo Branco. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999.

MACPHERSON, C. B.. La teoría política del individualismo posesivo: De Hobbes a Locke. Traducción: Juan-Rámon Capella. Madrid: Trotta editorial, 2005.

MENEZES JUNIOR, Edilson Alves de. L’état n’est ce pas moi: da crítica ao conceito de monarquia feudal a tese do estado feudal (1180-1226). In: XIII Encontro Internacional de Estudos Medievais da ABREM: Sobre Margens, Diversidades e Ensino. (ISSN 2526-8465). Salvador: UFBA, 2019, p. 241-261. Disponível em: . Acesso em: 13 ago 2023.

POULANTZAS, Nicos. O Estado, o poder, o socialismo. Tradução: Rita Lima. 2. ed.. Rio de Janeiro: edições Graal, 1985.

ROSENBLATT, Helena. A história perdida do liberalismo: da Roma antiga ao século XXI. Tradução: Isis Rezende. Rio de Janeiro: Alta Books, 2022.

SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político moderno. Revisão técnica: Renato Janine Ribeiro. Tradução: Renato Janine Riberio (capítulo 1 a 11); Laura Teixeira Moita (capítulo 12 e ss.). São Paulo Companhia da Letras, 1996.

STOLLEIS, Michael. Escrever História do Direito: reconstrução, narrativa ou ficção? Tradução: Gustavo C. M. Cabral. São Paulo: Contracorrente, 2020.

VITULLO, Gabriel. Representação política e democracia representativa são expressões inseparáveis? Elementos para uma teoria democrática pós-representativa e pós-liberal. In: Revista Brasileira de Ciência Política. n. 2. Brazília, julho-dezembro, 2009, p. 271-301.

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. 2. Tradução: Regis Barbosa; Karen Elsabe Barbosa. Revisão técnica: Gabriel Cohn. Brasília: Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Impressa Oficial do Estado de São Paulo, 1999.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2526-009X/2023.v9i2.10133

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.