CASAMENTO À BRASILEIRA: ARRANJOS CONTRATUAIS E AMPARO SOCIAL E PATRIMONIAL ÀS MULHERES NO BRASIL (1950-1977)
Main Article Content
Abstract
O presente artigo problematiza, com base em elementos históricos, jurisprudenciais, doutrinários e sociais, a tensão estabelecida entre a regulamentação civil do casamento e as formas costumeiras de união adotadas por casais no Brasil entre 1950 a 1977, denominadas popularmente “casamento à brasileira”. Tomamos como referência os estudos de E.P. Thompson para justificar as escolhas metodológicas e apresentar similitudes e divergências com o “divórcio britânico” do século XIX. O artigo parte das constatações de Thompson de que havia evidências de que setores sociais subalternizados realizavam escolhas morais racionais e dialogavam com a institucionalidade, apresentando argumentos de ordem social, econômica e moral, além de soluções criativas para os constrangimentos legais. O período analisado justifica-se porque corresponde a uma guinada da jurisprudência e doutrina no Brasil, que passam a ponderar acerca de questões patrimoniais relativas aos direitos da esposa e da concubina. O artigo apresenta achados relativos a uniões civis no Centro Oeste brasileiro, com especial atenção a formas contratuais originais registradas por juízes de paz, delegados, advogados e oficiais de cartório. Ao final, sugere-se que os contratos que buscavam dissolver uniões prévias e regular novas uniões informais correspondiam ao desejo de garantia patrimonial e proteção às mulheres e seus filhos, além do reconhecimento social frente à comunidade em que os casais se encontravam inseridos.
Downloads
Article Details
• O(s) autor(es) autoriza(m) a publicação do artigo na revista;
• O(s) autor(es) garante(m) que a contribuição é original e inédita e que não está em processo de avaliação em outra(s) revista(s);
• A revista não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es);
• É reservado aos editores o direito de proceder ajustes textuais e de adequação do artigo às normas da publicação.
Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre) em http://opcit.eprints.org/oacitation-biblio.html
References
ALMEIDA, Jaime. Liberdade, igualdade, matrimônio. Uma sessão do júri em São Luís do Paraitinga, 1909. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/10025. acesso em 12 de março de 2022.
BARRETO, Plínio. Curso de Direito Civil – Direito de família. 2ª. ed. Saraiva, São Paulo. 1955. 321p.
BERTRAN, Paulo. Formação Econômica de Goiás. Goiânia, Oriente. 1978.
______. História da terra e do homem no planalto central. Brasilia, UnB. 2011.
______. Notícia Geral da Capitania de Goiânia. Brasília, Solo Editores, 1996.
BRASIL, Americano. Pela história de Goiás. Goiânia, UFG. 1980.
______. Súmula da história de Goiás. Goiânia, Unigraf. 1982.
BRASIL. Código Penal. 1940.
BRASIL. Decreto-Lei 7.036 de 1944. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/del7036.htm. Acesso em 14/10/2022.
BRASIL. Emenda Constitucional no. 9, de 28 de junho de 1977, regulamentada pela Lei 6.515 de 26 de dezembro de 1977. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc_anterior1988/emc09-77.htm#:~:text=EMENDA%20CONSTITUCIONAL%20N%C2%BA%209%2C%20DE,seguinte%20Emenda%20ao%20texto%20Constitucional. Acesso em 12 de janeiro de 2022.
BRASIL. Lei orgânica da Previdência Social, Decreto no. 20.465 de 1931
BRASIL. SENADO FEDERAL. Códigos Civis do Brasil do Império à República, uma retrospectiva histórica. Brasilia, Senado Federal. 2002. CD-ROM.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 380 de 12/05/1964. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=30&sumula=2482). Acesso em 10 de outubro de 2022.
CÂMARA, Arruda. A batalha do divórcio. 2ª ed. São Paulo, Saraiva. 1960.
CARNEIRO, Nelson e GOMES, Orlando. Do reconhecimento dos filhos adulterinos. Rio de Janeiro, Revista Forense. 1958. 211p.
DIAS, Adahyl L. A concubina no direito brasileiro. São Paulo, Saraiva. 1975. 345p.
FARIAS, Cristiano C. ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. Salvador, Jus Podium, 2013.
IBGE. Estatísticas do registro civil, 2014. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/135/rc_2014_v41.pdf. Acesso em 09 de abril de 2022.
KROETZ, Maria Candida do Amaral. Enriquecimento sem causa no direito civil brasileiro contemporâneo e recomposição patrimonial. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Paraná. 2007. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp009065.pdf. Acesso em 31 de julho de 2021.
MARQUES, Teresa C. N. e MELO, Hildete P. Os direitos civis das mulheres casadas no Brasil entre 1916 e 1962: ou como são feitas as leis. In: Rev.Estud.Fem.16 (2) ago 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/mkBHYrM8HVHMbwHsYTDmzKz/abstract/?lang=pt. Acesso em 18 de fevereiro de 2022.
MARQUES, Teresa C.N. Dote e falências na legislação comercial brasileira. 1850 a 1890. Niteroi, UFF, v3 no2, p. 173-206. 2001.
MEIHY, J.C.B. e CHAUL, N. N. F. Caminhos de Goiás: da construção da “decadência” aos limites da “modernidade”. In: História Revista. Goiânia, v. 3, no. 1. 2010. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/historia/article/view/10662. Acesso em 01 de março de 2022.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. São Paulo, Saraiva. 2ª. Edição revista e aumentada. 1952. 291p.
______. Curso de Direito Civil: direito de família. São Paulo, Saraiva. 8ª. Edição, revista e ampliada. 1968. 291p.
NAZZARI, Muriel. Disappearance of dowry: women, families, and social change in São Paulo, Brazil. 1600-19000. Stanford. Stanford University Press. 1991.
PALACIN, Luis e GARCIA, Leonidas F. et al. História de Goiás em documentos. Col. Documentos Goianos. Goiânia, UFG. 1995. Mimeo.
______ e MORAES, Maria Augusta S. História de Goiás. Goiânia, UCG. 1989. Mimeo.
RAO, Vicente. A capacidade civil da mulher casada. São Paulo, Saraiva. 1966. 420p.
RIBEIRO, Hamilton e ALEARI, Oswaldo. O divórcio já existe. In: Revista Realidade. São Paulo, Abril. 1972. p.62-70.
RODRIGUES, Maria Augusta C. S. A modinha em Vila Boa de Goiás. Goiânia: UFG. 1982. Mimeo.
SALLES, Gilka V. F. Economia e escravidão em Goiás colonial. UFG.1992. Mimeo.
THOMPSON, E. P. A venda de esposas. In: Costumes em comum, estudo sobre a cultura popular tradicional. São Paulo, Cia das Letras. 1991. p. 305-348.
TRISTÃO, Roseli M. Formas de vida familiar na cidade de Goiás nos séculos XVIII e XIX. Goiânia, 1998. Dissertação de mestrado. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/113/o/TRIST_O__Roseli_Martins._1998.pdf. Acesso em 25 de fevereiro de 2022.
TRUBEK, D. Max Weber sobre direito e ascensão do capitalismo. Revista Direito FGV, v. 3 n. 1 (2007): jan.-jun. (5). Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/revdireitogv/article/view/35203. Acesso em 20 de janeiro de 2022.
VILLALTA, Luiz Carlos. “A torpeza diversificada dos vícios”: celibato e casamento no mundo dos letrados de Minas Gerais (1748-1801). São Paulo, dissertação de mestrado, USP, 1993. 291p.
XAVIER, Fernanda Dias. União estável e casamento: a impossibilidade de equiparação à luz dos princípios da igualdade e da liberdade. Biblioteca Digital do TJDFT. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/institucional/escola-de-administracao-judiciaria/e-books/uniao-estavel-e-casamento. Acesso em 21 de maio de 2021.