Justiça Restaurativa: Um Modelo Democrático de Reforma Institucional?

Juliana Kobata Chinen

Resumo


Este artigo se propõe a refletir acerca da justiça restaurativa como um paradigma possível de reforma institucional no contexto brasileiro, diante dos inúmeros problemas estruturais existentes no sistema prisional. Inicialmente, será apresentado um diagnóstico da situação atual  do  sistema  carcerário  brasileiro  e  de  impactos  sofridos  pelos  indivíduos  em cumprimento  de  pena  privativa  de  liberdade.  Em  seguida,  serão  levantadas  algumas possibilidades de reformas apresentadas por estudiosos e policy makers. Por fim, será apresentada  a  justiça  restaurativa  como  alternativa  ao  modelo  de  justiça  retributiva tradicional. A partir de uma breve explicitação do seu conceito e de seus valores, o objetivo é pensar se essa nova forma de lidar com o delito pode contribuir para um sistema de justiça criminal mais participativo e democrático, apontando-se desafios à implementação desse paradigma  de  justiça  no  Brasil.  No  final  do  texto,  é  feito  um  balanço  da  discussão apresentada, concluindo-se que a adoção da justiça restaurativa como possível reforma do sistema  de  justiça  criminal  brasileiro  parece  promissora,  ainda  que  adotada  de  forma experimental e incremental e carente de estudos mais aprofundados que levem em conta as particularidades do país.


Palavras-chave


Política criminal, Política prisional, Reforma institucional, Justiça restaurativa, Direito e desenvolvimento

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DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9679/2015.v1i1.407

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