MEDIAÇÃO E PERSPECTIVA DE GÊNERO: UMA ABORDAGEM DOS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS EM RELACÕES COM DESEQUILÍBRIOS ESTRUTURAIS

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Aline Damasceno P de Sena
https://orcid.org/0009-0006-1606-473X

Resumo

Os métodos autocompositivos de resolução de conflitos apresentam-se como alternativas à morosidade e ineficiência do Poder Judiciário. A concepção de acesso à Justiça não se resume à possibilidade de ajuizamento de uma ação judicial, engloba também o direito à duração razoável do processo e à resolução adequada do conflito. A Resolução n. 125 do Conselho Nacional de Justiça incorpora essa diretriz ao dispor sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses, estimulando a adoção de métodos autocompositivos, da mesma forma o Código de Processo Civil de 2015 e a Lei de Mediação. A satisfação do usuário e a efetividade das soluções conferidas aos conflitos passam a centralizar as discussões de políticas judiciárias, impulsionando o incentivo aos métodos autocompositivos. Todavia, em situações de desequilíbrios de poder entre os envolvidos emergem relevantes questionamentos éticos e jurídicos quanto ao alcance de uma solução justa. A autonomia e a voluntariedade são essenciais aos métodos autocompositivos, e, para serem efetivas, exigem um mínimo de igualdade entre as partes. Neste artigo pretende-se, através de uma pesquisa bibliográfica, verificar os limites e possibilidades da mediação em relações com desequilíbrio estrutural de poder entre as partes, a partir de uma perspectiva de gênero, sem desconsiderar a influência dos marcadores de raça e classe. Ao longo do texto, busca-se provocar reflexões quanto aos conceitos de imparcialidade do mediador e consentimento dos envolvidos, a partir de uma epistemologia feminista.

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Como Citar
de Sena, A. D. P. (2024). MEDIAÇÃO E PERSPECTIVA DE GÊNERO: UMA ABORDAGEM DOS MÉTODOS AUTOCOMPOSITIVOS EM RELACÕES COM DESEQUILÍBRIOS ESTRUTURAIS. Revista De Formas Consensuais De Solução De Conflitos, 10(1). https://doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9679/2024.v10i1.10636
Seção
Artigos
Biografia do Autor

Aline Damasceno P de Sena, Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados

Graduada em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (2010). Especialista em Direito Penal e Criminologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2020), em Gestão Judiciária pela Universidade de Brasília (2016) e em Direito Tributário pela Uniderp (2012). Mestranda na Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM (início 2023)Juíza de Direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Atuou como Juíza Instrutora no Supremo Tribunal Federal, foi também Juíza Auxiliar naquele Supremo Tribunal (2020-2022). Ex-membro da Coordenadoria de Mulheres em Situação de Violência Doméstica do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (2018-2020).Tutora credenciada pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM. Tutora e conteudista de cursos para magistrados pela Escola Judicial Edésio Fernandes - EJEF/TJMG.Autora de artigos e capítulos de livros jurídicos.

  

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