Os Juristas sabem do que estão falando ou falam sobre o que sabem? Um diálogo entre Argumentação Jurídica e Hermenêutica Filosófica

Vanessa Nunes Kaut, Vitor Amaral Medrado

Resumo


Apesar de mais populares no âmbito jurídico, as teorias da argumentação jurídica não respondem satisfatoriamente à questão: os juristas sabem do que estão falando ou falam sobre o que sabem?, ou, em termos mais específicos, à pergunta: qual é o papel do conhecimento na construção da interpretação? Isso porque parece faltar em tais teorias uma visão crítica sobre a interpretação como processo de compreensão e de sua importância no processo decisório. Por outro lado, perguntas dessa abrangência podem ser enfrentadas a partir da propedêutica  oferecida  por  uma  teoria  do  conhecimento,  que  deve,  então,  ser  parte constituinte das teorias contemporâneas da interpretação. Portanto, ao contrário da tendência recente na Filosofia do Direito de limitar a interpretação às teorias da argumentação jurídica, reportamos não ser possível uma teoria abrangente da interpretação jurídica sem uma reflexão a priori sobre o processo de compreensão, a exemplo daquelas oferecidas por Heidegger e Gadamer. No mesmo sentido, também é problemático limitar a discussão sobre a prática da interpretação à hermenêutica filosófica, como sugere Streck. Se estivermos certos, será possível vislumbrar que as teorias da argumentação jurídica e a hermenêutica filosófica  devem  ser  entendidas,  antes,  em  sua  complementariedade,  do  que  em  suas diferenças.


Palavras-chave


Interpretação; Argumentação jurídica; Hermenêutica filosófica; Teoria do conhecimento

Texto completo:

PDF

Referências


ALEXY, Robert. Conceito e validade do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2011a.

ALEXY, Robert. Law, Morality, and the Existence of Human Rights. Ratio Juris. Vol. 25. N. 1, 2012, p. 2-14.

ALEXY, Robert. On the Concept and the Nature of Law. Ratio Juris. v. 21. n. 3, 2008a, p. 281- 299.

ALEXY, Robert. Teoria da argumentação jurídica: A Teoria do Discurso Racional como Teoria da Fundamentação Jurídica. Trad. Zilda Hutchinson Schild Silva. 3. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2011b.

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo, Malheiros Editores, 2008b.

ALEXY, Robert. Teoria discursiva do direito. Trad. Alexandre Travessoni Gomes Trivisonno. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.

ATIAS, Christian. Épistémologie du droit. Coll. Que sais-je?, nº 2840, Paris, Presses Universitaires de France, 1994.

DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. Nelson Boeira. São Paulo, Martins Fontes, 2002.

DWORKIN, Ronald. O império do direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo, Martins Fontes, 2003.

GADAMER, Hans Georg. Verdade e Método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Trad. Flávio Paulo Meurer. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

GADAMER, Hans Georg. Trad. Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

GADAMER, Hans Georg. Trad. Flávio Paulo Meurer. 2. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.

HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o Humanismo. Rio de janeiro: Biblioteca Tempo Universitário 5, 1967.

HEIDEGGER, Martin. O que é isto: a filosofia? Em: Conferências e escritos filosóficos. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. 15. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.

HEIDEGGER, Martin. Sobre a essência da verdade. Em: Conferências e escritos filosóficos. Trad. Ernildo Stein. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

INDEPENDENT. Texas judge orders defendant to marry girlfriend in 30 days – or go to jail.

agosto 2015. Disponível em: .

KELSEN, Hans. O problema da Justiça. Trad. de João Baptista Machado. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. 4º edição. Trad. de João Baptista Machado. Coimbra: Armênio Amado Editor, 1976.

MELKEVIK, Bjarne. Chonique bibliographique sur Christian Atias “Épistémologie du droit” (1994). Em: Les Cahiers de droit, vol. 36, nº 2, 1995, p. 549-551.

MIRANDA AFONSO, Elza Maria. O positivismo na epistemologia jurídica de Hans Kelsen. Belo Horizonte: Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1984.

OLIVEIRA, Júlio Aguiar de; TRIVISONNO, Alexandre Travessoni Gomes. Trindade e Streck, seus defensores e a filosofia. Consultor Jurídico. 26 abril 2014. Acessível em:

http://www.conjur.com.br/2014-abr-26/trindade-streck-defensores-filosofia-logica- ornamental? Acesso em: 28 abril 2014b.

OLIVEIRA, Júlio Aguiar de; TRIVISONNO, Alexandre Travessoni Gomes. Uma teoria do direito sem filosofia?! Crítica às objeções de Trindade e Streck à teoria de Alexy. Os Constitucionalistas. 15 abril 2014a. Acessível em: http://www.osconstitucionalistas.com.br/uma-teoria-do-direito-sem-filosofia-critica-as- objecoes-de-trindade-e-streck-a-teoria-de-alexy Acesso em: 16 abril 2014.

OLIVEIRA, Rafael Tomaz de; ROSA, Alexandre Morais da. Alexy, seus defensores e a filosofia como lógica ornamental. Consultor Jurídico. 19 abril 2014. Acessível em: http://www.conjur.com.br/2014-abr-19/alexy-defensores-filosofia-logica-ornamental Acesso em: 26 abril 2014.

OLIVEIRA, Rafael Tomaz de. Um debate sobre o lugar da Teoria do Direito. Consultor Jurídico. 12 jan. 2014. Acessível em: http://www.conjur.com.br/2013-jan-12/diario-classe- debate-lugar-teoria-direito? Acesso em: 3 jun. 2014.

PEREIRA, Rodolfo Viana. Hermenêutica filosófica e constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

SAPUCAIA, Rafael Vieira Figueiredo. A aplicação da máxima da proporcionalidade no STF: um caso. Revista SJRJ, Vol. 20, N. 36, 2013, p. 193-204.

SAPUCAIA, Rafael Vieira Figueiredo. A derrotabilidade dos princípios e o Supremo Tribunal Federal. Observatório da Jurisdição Constitucional, Vol. 2, 2012, p. 1-15.

STRECK, Lenio Luiz. A Katchanga e o bullying interpretativo no Brasil. Consultor Jurídico. 28 junho 2012. Acessível em: http://www.conjur.com.br/2012-jun-28/senso-incomum- katchanga-bullying-interpretativo-brasil Acesso em: 19 agosto 2015.

STRECK, Lenio Luiz; TRINDADE, André Karam. Alexy e os problemas de uma teoria jurídica sem filosofia. Consultor Jurídico. 05 abril 2014. Acessível em:

http://www.conjur.com.br/2014-abr-05/diario-classe-alexy-problemas-teoria-juridica- filosofia? Acesso em: 07 abril 2014.




DOI: http://dx.doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2525-9644/2015.v1i1.214

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.