QUANTO DE HERANÇA HISTÓRICA ESTÁ PRESENTE NA ATUAÇÃO DOS DOCENTES DOS CURSOS DE DIREITO NO BRASIL?

Jefferson Aparecido Dias, Raquel Cristina Ferraroni Sanches, Fernanda Mesquita Serva

Resumo


Os estudos conduzidos neste artigo objetivaram compreender a influência portuguesa, em especial dos profissionais “egressos de Coimbra”, na implantação do curso de  Direito no Brasil, e os desdobramentos pedagógicos na condução dos mesmos, até os dias atuais, passando pela crise pandêmica do COVID 19 e sobrevivendo a ela. Embora os cursos jurídicos sejam dos mais antigos cursos universitários do país, ainda adotam modelos ineficientes de ensino, resultando em um saber jurídico formalista, provocado pela manutenção do hábito dogmático e multidisciplinar. Para condução das investigações, optou-se pela pesquisa qualitativa, tomando como pressuposto de que os sujeitos agem em função de seus valores, crenças, sentimentos e percepções, construindo significados que precisam ser desvelados pela pesquisa. Ao longo das investigações, foram realizadas reflexões subsidiadas pela análise histórica das diretrizes que orientaram a criação dos cursos jurídicos no Brasil, na busca por novos caminhos para a educação jurídica, de modo que ela deixe o patamar de “ensino” para configurar-se em “educação jurídica”. Essa mudança de paradigma poderá favorecer para que a atuação docente possa, efetivamente, estar comprometida em conduzir as aulas balizadas por práticas pedagógicas críticas e reflexivas, com vistas à formação integral do cidadão, independente da modalidade de aulas adotada, seja presencial ou remota.


Palavras-chave


Direito; Educação; Ensino jurídico; Educação jurídica; COVID 19

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DOI: https://doi.org/10.26668/IndexLawJournals/2358-1352/2023.v36i13.8534

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